Visita presidencial à China

Maio 2023 – 41ª edição

  • Quais são os principais avanços e resultados significativos esperados para as relações bilaterais entre o Brasil e a China, considerando a recente visita Presidencial à China em abril de 2023?

O principal resultado da visita presidencial foi a aproximação política, tendo sido a China um dos primeiros países a serem visitados no contexto do início de um novo governo no Brasil. As relações comerciais entre Brasil e China vão muito bem e acumularam recordes nos últimos anos. Essa viagem, entretanto, foi uma oportunidade de reconexão após três anos de restrições impostas pela pandemia de covid-19. Foi uma coincidência muito feliz a visita presidencial acontecer no contexto de abertura da China para o mundo. Empresas que trabalham com a China estavam ansiosas por voltar a frequentar o país e encontrar distribuidores, parceiros e clientes, o que aumentou o impacto da visita presidencial.

Grande avanço foi, ainda, o consenso de que Brasil e China podem trabalhar juntos na área ambiental, que representa ampla gama de oportunidades, inclusive relacionadas aos objetivos de reindustrialização do Brasil e promoção contínua de seu comércio exterior. A China está muito avançada nos investimentos na área de energias renováveis e tem programas bem constituídos em hidrogênio verde, carros elétricos, baterias e equipamentos relacionados ao tema da descarbonização e da transição energética. Essa viagem mostrou que há oportunidades de ganho mútuo:  no caso da China, para promoção de seus investimentos no exterior e promoção da sua capacidade tecnológica; no caso do Brasil, para atrair tecnologia e empresas voltadas à descarbonização e transição energética.

  • A China é o principal parceiro comercial do Brasil, sobretudo na agroindústria. Como a visita impacta as perspectivas de cooperação econômica e comercial na Ásia, sobretudo entre os dois países? Há perspectivas para abertura de mercados na China para outros setores e a diversificação das exportações?

O agro foi um dos setores que teve as melhores notícias durante a visita. Em primeiro lugar, a retirada a auto-suspensão da carne bovina brasileira após um caso de vaca louca atípica. Além disso, foram aprovadas quatro novas plantas de carne bovina para exportação à China, um pleito recorrente do Brasil para estimular o comércio na área de proteína animal, sobretudo bovina, que tem na China seu principal cliente. É preciso dizer que a proteína animal já é grande elemento de diversificação e agregação de valor na pauta exportadora brasileira.

Há perspectivas de abertura de novos mercados. A China declaradamente quer importar mais. Para produtos frescos do agro, temos a necessidade de negociação de protocolos sanitários entre os dois países, e isso tem sido feito para uma série de produtos. Exemplo na área de vegetais são as frutas, que também representam diversificação e agregação de valor às exportações brasileiras. Atualmente só podemos exportar melão para a China, mas há negociações em curso para exportação de uva e produtos como castanhas.

A agroindústria e o setor de alimentos têm na Ásia uma grande oportunidade por meio do comércio eletrônico transfronteiriço. A China tem 200 milhões de consumidores digitais que compram produtos importados por meio do comércio eletrônico. Praticamente um Brasil de importadores digitais pessoa física, um subconjunto de um contexto de 800 milhões de consumidores digitais que fazem uso regular de comércio eletrônico na China. Cerca de 55% da demanda nas plataformas de comércio eletrônico chinesas são por  alimentos importados. Vender direto para o consumidor significa conseguir trabalhar marca e reputação. Essa é uma dificuldade, dado que a base da nossa exportação para a China é de produtos primários.

  • Foi anunciado um mecanismo de compensação para viabilizar negócios entre o Brasil e a China em yuan e não apenas em dólar. Como o mecanismo pode contribuir para os negócios e como será seu funcionamento?

A principal questão desse mecanismo é que ele pode reduzir o custo de transação para algumas operações. Não é um mecanismo que fará sentido para todos os setores, todas as operações, mas que pontualmente pode ser útil para alguns empresários, no curso de seus negócios, reduzirem o custo de transação. Esforços que facilitem e reduzam custos são muito bem-vindos.

  • A sustentabilidade também foi um tema central, presente no discurso dos dois governos, sobretudo na forma de investimentos e parcerias nas áreas de energia limpa, economia verde e economia digital. O que podemos esperar no curto e médio prazo?

No curto e médio prazo, o que podemos esperar é uma intensificação dos fluxos de investimento chineses em áreas relacionadas às energias renováveis e à descarbonização aqui no Brasil. O Brasil já é um dos maiores destinos de investimento chinês do mundo. Do investimento chinês que vem para o Brasil, mais de 80% se concentra na área de energia – geração, transmissão, distribuição ou petróleo. Essa é uma tese de investimento que continua fazendo sentido para as empresas chinesas no Brasil e que possivelmente será alvo continuado de interesse aqui, dado que o Brasil tem um grande potencial de geração de energia renovável a um custo bastante baixo. Associado a isso, temos uma série de indústrias que podem se desenvolver, por exemplo, toda a cadeia do hidrogênio verde e o que pode ser produzido a partir disso, como fertilizantes e combustíveis para transporte marítimo. O hidrogênio verde pode também ser um elemento importante para a descarbonização de cadeias tradicionais como siderurgia e cimento.

Entrevistada: Larissa Wachholz é Executiva de negócios e relações institucionais com reconhecida expertise no mercado chinês, tendo vivido na China entre 2008 e 2013. Ao longo da carreira, atuou nas áreas de infraestrutura, energia e agronegócio.
Foi assessora especial da Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, até julho de 2021. Graduada em relações internacionais, é mestre em estudos contemporâneos da China pela Renmin University of China e tem passagens pela London School of Economics, Peking University e Insper.