Julho 2023 – 43ª edição
- A SECEX lançou recentemente um estudo que identifica a participação das mulheres no comércio exterior brasileiro. Quais os principais resultados e como a Secretaria utilizará o estudo para a formulação de políticas públicas?
A SECEX lançou dois importantes estudos recentemente: 1) Mulheres no Comércio Exterior e 2) Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras. Ambos lançam um olhar sobre as vantagens que o comércio exterior representa para o desenvolvimento econômico e também sobre as oportunidades de aumento na participação relativa de alguns grupos: destaco aqui os recortes para o gênero feminino e para as regiões norte e nordeste do país.
Os estudos deixam claro que as firmas engajadas no comércio exterior remuneram melhor (entre 36% a 124% a depender do setor) e concentram proporcionalmente mais trabalhadores, com maior escolaridade. Entretanto, apenas 1% das firmas brasileiras exportam seus produtos. Dessas, apenas 14% possuem mulheres à frente de seu quadro societário.
Quando avaliamos a força de trabalho empregada em empresas exportadoras, verificamos que a participação das mulheres é proporcionalmente menor e que o gap salarial entre homens e mulheres é ainda maior nas empresas atuantes no comércio exterior. Ao mesmo tempo, a participação feminina é maior nas empresas que exportam para países de maior renda e que têm produtos diferenciados em suas pautas de exportações. Ressalta-se, ainda, que empresas comandadas por mulheres exportam produtos sobre os quais recaem, em média, tarifas superiores às observadas em firmas lideradas pelo gênero masculino.
Em relação à participação societária em empresas exportadoras, verificamos que as regiões sul e sudeste se destacam pela presença feminina em seus quadros, em proporção superior ao observado em firmas que não participam do comércio exterior. Já nas regiões norte e nordeste, o desafio de inserção de empresas no comércio exterior ainda é grande.
Outra importante constatação dos estudos supracitados é o fato de que há uma maior participação feminina, como sócias e como trabalhadoras, em micro e pequenas empresas. Sendo assim, ao ampliar políticas de apoio a micro e pequenas empresas no comércio internacional colabora-se, também, para uma maior inserção feminina.
Ainda há espaço para a avaliação qualitativa dos obstáculos para que a participação de mulheres no comércio exterior seja maior. Podemos supor que entraves como o desafio de obter financiamento, o conhecimento de idiomas e de procedimentos relacionados ao comércio exterior possam ser causas da baixa participação. Além disso, tem grande impacto a percepção de que faltem habilidades socioemocionais ou de que haja fatores culturais limitantes.
Aqui, reconhecemos a importância de atividades de capacitação direcionadas ao público feminino e a necessidade das redes para que seja oferecido apoio e que sejam desconstruídos estereótipos de gênero. Trabalhamos para que as vantagens advindas da participação no comércio exterior possam ser aproveitadas por mais atores e pelas diversas regiões do país.
- A ApexBrasil também vem impulsionando ações para equidade gênero na agência e nas ações de promoção comercial. Como a agência vem implementando as ações na sua gestão interna e com seus parceiros?
O primeiro e talvez mais importante passo que nós demos em direção a uma maior equidade de gênero na ApexBrasil foi a publicação, em março deste ano, do Compromisso ApexBrasil de Equidade de Gênero (https://click.apexbrasil.com.br/Comunicacao/Compromisso_Equidade_de_Genero.pdf). Esse compromisso traz iniciativas no âmbito da gestão interna da Agência, tais como a observação da paridade de gênero nos cargos de liderança, a criação de um programa de capacitação para a formação de novas líderes e a adaptação dos nossos regulamentos internos para a seleção das empresas participantes da nossas ações, atribuindo pontuação extra para aquelas que sejam lideradas por mulheres. No âmbito externo, a principal entrega do Compromisso ApexBrasil de Equidade de Gênero foi a criação do Programa Mulheres e Negócios Internacionais, projeto em parceria com mais de 20 instituições públicas e privadas que consiste em uma série de iniciativas voltadas para a inclusão de mais empresas lideradas por mulheres no esforço exportador brasileiro, seja por meio da qualificação dessas empresas e de suas lideranças para o comércio exterior, ou ainda por meio de ações de promoção comercial específicas para empresas lideradas por mulheres.
- ApexBrasil e MDIC lançaram programa de mentoria para mulheres no comércio exterior. Qual o objetivo do programa e como será seu funcionamento?
O Elas Exportam está em sua primeira edição, ainda em versão piloto, mas já tem despertado um grande interesse por parte de atores relevantes na área de comércio exterior. O objetivo do programa é oferecer um ambiente de apoio e troca entre as participantes, com o compartilhamento de conhecimentos técnicos e o desenvolvimento de competências socioemocionais que podem ser fundamentais para o sucesso de um negócio iniciante no comércio exterior. Queremos, com isso, ajudar mulheres a saltarem alguns degraus na escada de evolução de seus negócios e a permanecerem no mercado externo de forma regular e a longo prazo.
Sabemos que redes podem abrir um mundo de oportunidades e oferecer informações que farão grande diferença no posicionamento de negócios liderados por mulheres. A possibilidade de se espelharem em casos de sucesso na internacionalização de negócios liderados por mulheres também é um ganho. Temos nas WITs um grande exemplo de como as redes são poderosas e no projeto Alumna uma grande inspiração de como esse modelo de mentoria pode ser benéfico.
O programa se repetirá em ciclos semestrais, durante os quais grupos de mentoras e mentoreadas dedicarão uma hora por mês a sessões individuais de mentoria. Além disso, oferecemos oportunidades de capacitação técnica e oficinas para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais com especialistas de destaque.
Nessa primeira edição, tivemos 169 inscritas para atuar como mentoras e aproximadamente 400 inscritas para receber a mentoria. Esse número reflete o sucesso da iniciativa e o espaço para que possamos continuar a contribuir para o aumento da participação de mulheres no comércio exterior.
Contaremos também com o apoio de entidades parceiras e guardamos algumas surpresas para os últimos meses do programa. Estamos confiantes em que a criação de um ambiente de apoio, de trocas, de compartilhamento e de inspiração fará a diferença na vida de muitas mulheres e impulsionará negócios de muito sucesso.
- Quais outras ações e políticas estão no radar da Apex para maior participação da mulher no comércio exterior e o empoderamento feminino?
Além do Programa Elas Exportam, já estão previstas para esse ano pelo menos 10 rodadas de negócios voltadas para empresas iniciantes em diferentes estados brasileiros, no que estamos chamando de projeto Exporta Brasil (mais informações em https://portal.apexbrasil.com.br/evento/exporta-br-rodada-moveis/). Para todas essas rodadas haverá critérios inclusivos que privilegiarão empresas lideradas por mulheres no momento da seleção dos participantes. Deveremos também realizar uma rodada específica para empresas lideradas por mulheres, em parceria com a Rede Mulher Empreendedora, em outubro na cidade de São Paulo. Esperamos poder contar, inclusive, com empresárias que estejam participando da mentoria do Elas Exportam nessas rodadas.
Entrevistadas:
Ana Paula Repezza é administradora formada pela UFMG, possui MBA em Gestão de Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela FGV e mestre com foco em Gestão Internacional da Sustentabilidade pela Universidade de Londres. Executiva sênior com ampla experiência em relações governamentais em nível nacional e internacional, estratégia global e iniciativas ESG, tem mais de vinte anos de experiência em comércio exterior, notadamente em temas relativos à estratégia internacional, política comercial e atração de investimentos estrangeiros, incluindo a representação e a coordenação de posições do Governo Brasileiro em fóruns bilaterais e multilaterais dedicados a esses temas.
Também possui experiência no meio acadêmico, com foco especial em temas de sustentabilidade. Funcionária de carreira da ApexBrasil, ocupou diversos cargos de liderança como Coordenadora de Inteligência Comercial (2007-2008); Coordenadora de Relações com Parceiros; Gerência Geral de Negócios; Gerência de Facilitação de Negócios; Gerência de Estratégia de Mercados. Nos últimos três anos foi Secretária Executiva da Câmara de Comércio Exterior.
Janaína Silva é graduada em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília e mestre em Políticas Públicas pela Universidade de Erfurt, na Alemanha, atua como Analista de Comércio Exterior em frentes de negociações regionais e extrarregionais há dez anos. Ocupou o cargo de chefe da assessoria internacional do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e coordenou a área de negociações internacionais de comércio em temas não tarifários no Ministério da Economia. Na agenda de desenvolvimento produtivo, coordenou área responsável pelos setores de comércio e serviços e também coordenou área de empreendedorismo feminino e negócios de impacto socioambiental na Subsecretaria de Micro e Pequenas Empresas do Ministério da Economia. Atualmente está à frente do Departamento de Promoção e Facilitação do Comércio, responsável por projetos de desburocratização e simplificação do comércio exterior, estímulo à cultura exportadora e fortalecimento de redes, tais como o Portal Único de Comércio Exterior e o Plano Nacional da Cultura Exportadora.