O que esperar da política comercial norte-americana no governo de Biden?

 

Janeiro, 2021 – 19ª edição

1. O que esperar da política comercial de Biden? Em que aspectos será diferente da de Trump?

A semana da posse do Presidente Biden será marcada por mais de 400 mil mortes por Covid-19, em um país divido pela política, desemprego, desigualdades racial, social e econômica crescentes, dentre outros desafios. Nesse cenário, não é esperado que a política comercial seja prioridade no início de governo. Porém, podemos esperar que a política comercial de Biden venha fazer as pazes com os aliados, investir em coalizões e concentrar grande parte de seus esforços na Ásia, em especial na China. O multilateralismo institucional pode ser segunda prioridade frente a construção de parcerias menores com agendas claras de contenção da influência chinesa e na execução dos acordos existentes.

2. O que se comenta em Washington sobre a escolha de Katherine Tai para a posição de United States Trade Representative? Pela sua trajetória, o que poderíamos esperar da sua gestão no USTR?

A nomeação de Katherine Tai como USTR indica que Biden reconhece a importância da política comercial para a reconstrução de coalizões internacionais e seu impacto na economia e no mercado de trabalho doméstico. Tai foi bem recebida por sua experiência prévia no USTR e no Congresso, conexões que podem ser essenciais para o sucesso da pasta. Sua nomeação, aliada a outras nomeações de especialistas em China em demais postos chave do governo, confirma o foco em China. Apesar de Biden ter falado não ter interesse em acordos comerciais, é possível que continuem como opção dentro de uma estratégia maior de contenção da influência chinesa.

3. Com a nova Administração americana, o que pode mudar na agenda comercial Brasil-EUA? Há já algum indício de mudança na abordagem da agenda de meio ambiente e comércio?

O governo Biden comprometeu-se com uma agenda ambiciosa para temas de mudanças climáticas e meio ambiente. Com experiência e liderança prévia em temas ambientais, o Brasil tem oportunidade única para formar uma parceria com os Estados Unidos e contribuir para o desenvolvimento de políticas e defesa de interesses em um dos maiores desafios global atual. Como grandes produtores e exportadores agropecuários, a aproximação entre os países e o alinhamento de seus interesses nessa matéria pode ser mutuamente benéfico. Para isso, os setores público e privado brasileiro precisam investir em uma maior presença em Washington para conquistar esse espaço

4. O que a mudança em Washington representa para a posição dos EUA na OMC?

Talvez a maior mudança que um governo Biden possa trazer à OMC é uma equipe que esteja, de fato, engajada em negociar soluções e avançar a agenda de reformas. Mas esse mandato ainda não está claro e nem é tomado como certo. A OMC está na UTI e Biden não a deixará morrer. Mas também não deve oferecer o tratamento necessário para garantir sua recuperação rápida. Espera-se que sua equipe avance alguns temas menos contraditórios, use a nomeação de juízes como moeda de negociação, e não retroceda imediatamente nas tarifas impostas à China. O apoio à OMC deve avançar à medida que seu time econômico a julgue importante para alcançar sua agenda nacional.

Entrevistada: Alinne é especialista em política comercial na Bryant Christie Inc., foi superintendente de relações internacionais na CNA, especialista em negociações internacionais na CNI e lobista em Washington. Alinne é formada pela University of Central Florida e tem mestrado pela Georgetown University.