O Papel dos Think Tanks na Atualidade

Setembro 2021 – 27ª edição

  • Como os think-tanks podem efetivamente influenciar a opinião pública e a formulação de políticas públicas? 

 

Sendo independente e plural, conectando pessoas de pensamentos mais diversos e sendo capaz de construir uma ponte entre a produção deste conhecimento com rigor intelectual e o desenho de políticas públicas. Desta forma, a produção de pesquisa de alta qualidade se traduz em materiais e propostas concretas e acessíveis. Para exercer essa influência e catalisar mudanças é preciso educar, informar os tomadores de decisão e a opinião pública, e fomentar o diálogo sobre os impactos de determinadas escolhas estratégicas. O CEBRI, por exemplo, se prepara para fazer um intenso trabalho de pesquisa e debate nos próximos meses com o objetivo de entregar, em mãos, aos próximos candidatos à presidência, propostas pragmáticas para a formulação de políticas públicas nas temáticas com maior potencial para a melhor inserção do país na economia internacional.


  • Você assumiu ano passado a presidência do CEBRI. Qual conselho você daria para outras profissionais para ascensão na carreira na área internacional?

 

Apesar de a área de relações internacionais ainda ser predominantemente masculina, a presença feminina vem crescendo. Atualmente há vozes femininas muito fortes, no Itamaraty, em cargos executivos, nos conselhos de administração, e em importantes organismos multilaterais, como Ngozi Okonjo-Iweala, presidente da OMC. No CEBRI, realizamos recentemente um curso sobre a História da Diplomacia Brasileira com uma leve predominância de mulheres. O perfil dos alunos também se revelou muito jovem, o que indica também uma renovação geracional interessante. Estas novas líderes devem, sobretudo, desenvolver habilidades de liderança, observar e inspirar-se nestas grandes mulheres em posições de destaque e se fortalecer por meio da ampliação de uma rede de relacionamentos e conexões. É um processo em curso. Esperamos que essas mudanças, se reflitam, no futuro próximo, em uma área de relações internacionais ainda mais plural.



  • Quais os focos da agenda do CEBRI na área de comércio internacional?

 

Na área de comércio internacional, o CEBRI tem como objetivo trazer um diagnóstico das principais tendências de comércio exterior e analisar, por meio de debates e reflexões, a dinâmica de inserção brasileira no comércio: seus pontos fortes, seus principais parceiros e suas expectativas, bem como suas debilidades e a estratégia e adaptações desejáveis para alcançar uma maior inserção brasileira no sistema internacional. Em particular, o trabalho do núcleo concentra-se em organismos-chaves para o comércio global, tais como a OMC, o G20 e a OCDE, assim como em regiões estratégicas para as exportações brasileiras, como o Mercosul, a UE e a Ásia. Além desses, também estão no radar do Núcleo pautas como a Economia Digital e as perspectivas para o comércio global no pós-pandemia.


  • Como você vê a sustentabilidade na política externa e na política comercial do Brasil dos próximos anos?

 

Nos debates do Núcleo de Meio Ambiente e Mudança do Clima do CEBRI, enfatizamos a necessidade de compreendermos a sustentabilidade como uma pauta que não é oposta, mas sim aliada ao desenvolvimento econômico. O Brasil não só foi um dos líderes e promotores dos principais marcos do regime internacional de meio ambiente e clima, a exemplo da Rio 92 e da Agenda 2030, como possui vantagens comparativas para promover o tema tanto em sua política externa quanto comercial. É necessário que haja uma conjugação de forças do setor público, privado e da sociedade civil. Já há movimentos de outros países e de empresas multinacionais para restringir ou limitar importações de locais onde não haja respeito às regulações de sustentabilidade. Com os dados alarmantes do último relatório do IPCC, se o Brasil não der ao tema a devida valorização, estaremos na contramão da tendência mundial. 



Entrevistada: Julia Dias Leite é CEO do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI), o principal think tank de relações internacionais do Brasil, e presidente do Conselho de Administração da Piemonte Holding. É formada em Direito pela Universidade Cândido Mendes e tem mestrado em Gestão de Negócios pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).