MARÇO 2022 – 30ª edição
- A Rússia é um grande exportador de fertilizantes e o governo recomendou a suspensão das exportações do produto após sanções econômicas impostas ao país. Empresas do setor de frete, também paralisaram os serviços de importação e exportação de produtos para a Rússia. Qual o impacto para o Brasil? Quais os setores mais afetados e quais são as alternativas diante desse cenário?
Quase 90% do fertilizante consumido no Brasil vem do exterior. A Rússia é o nosso principal fornecedor, sendo responsável por 22,3% de todo o volume importado. A interrupção (total ou parcial) desse fornecimento pode afetar a produção agrícola nacional. No curto prazo, a alternativa é buscar no mercado internacional outros países que possam suprir a demanda interna. No longo prazo, é investir em formas de reduzir a dependência externa, como o aumento da produção interna e o desenvolvimento/uso de práticas alternativas. O objetivo final é tornar a produção agropecuária menos vulnerável a crises, como o conflito entre Rússia e Ucrânia.
- O Canadá já suspendeu as concessões do status de nação mais favorecida para a Rússia na OMC. A UE anunciou a intenção de seguir a mesma linha. Reino Unido, EUA e Japão estudam também adotar esse tipo de medida. A Rússia também foi suspensa da participação do Grupo de Coordenação dos países desenvolvidos na OMC. Já que o comércio com o país é praticamente inviável pelas sanções econômicas, quais os efeitos práticos adicionais desse tipo de medidas?
Com o aumento da globalização das cadeias de suprimento, cresce também a interdependência entre as economias. Sem dúvida, os países envolvidos diretamente no conflito são os que mais sofrem os impactos desse “isolamento comercial”, mas não são os únicos. Outras nações que dependem da importação e/ou da exportação de/para esses países também sentem os efeitos desse isolamento. O trigo exemplifica bem esse quadro: cerca de 50 países importam de Rússia e Ucrânia mais de 30% do trigo que consomem internamente.
- O conflito entre Rússia e Ucrânia tem alterado o funcionamento normal dos mercados e poderá comprometer o abastecimento de alimentos. Diante desse cenário, aumenta a preocupação de alguns países com segurança alimentar e em casos específicos isso pode gerar restrições ou proibição de exportação de commodities. Quais os possíveis impactos desse cenário para o agro brasileiro?
Em termos de segurança alimentar, o Brasil possui uma condição privilegiada. Em função da pandemia, alguns países que dependem da importação de alimentos para garantir o abastecimento interno adotaram medidas para restringir a exportação de determinados produtos e facilitar a importação de outros. A produção agropecuária brasileira garantiu o abastecimento interno e não limitou as vendas externas. Houve aumento dos preços internacionais dos alimentos e dos insumos de produção. No caso do conflito atual, a preocupação principal é com a oferta e o preço dos fertilizantes e dos principais cereais exportados por Rússia e Ucrânia.
Entrevistada: Sueme Mori é atualmente Diretora de Relações Internacionais da CNA. Engenheira Mecânica de formação, possui especializações em Comércio Exterior e Gestão Estratégica. Já atuou como Coordenadora Geral de Investimentos e Cooperação Internacional no MAPA; foi Gerente de Estratégia de Mercado da ApexBrasil, além de ter trabalhado anteriormente no SESI Nacional, na Embraco e na FIESC.